Os quadrinhos autobiográficos (pero no mucho) de Julie Maroh ganham uma adaptação delicada que explora o começo, meio e fim de um amor puro – e, sendo puro, talvez ele não tenha fim. É o acaso que une a estudante Emma (Léa Seydoux) e a adolescente Adèle (Adèle Exarchopoulos); é o sentimento forte e crescente que as faz descobrir, juntas, o que é uma vida a dois. Com três horas de projeção, o filme toma seu tempo em estabelecer o peso do sentimento que as une, a cisão que as separa e os fragmentos que ficam pelo caminho. Mas, acredite, três horas não é nada quando está em cena uma atriz tão espetacular como Adèle Exarchopoulos: o que ela constrói nesse tempo é uma vida plena.
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
CAPITÃO PHILLIPS
Existe um momento, já no final de Capitão Phillips, em que o personagem de Tom Hanks parece ceder à toda a pressão da abordagem em alto mar do cargueiro que ele comandava. Primeiro quando seu navio foi tomado por piratas somali, que depois o levaram como refém por longos dias em uma baleeira. Por fim, o trágico resgate feito pelos fuzileiros americanos. Recebendo cuidados médicos, ele desaba, seu cérebro ainda não registra que seu tormento chegou ao fim. É o momento em que Hanks mostra porque é um grande ator, e é também o fim de uma jornada tensa conduzida com precisão por Greengrass (A Supermacia Bourne, O Ultimato Bourne). Bombardeado por acusações estúpidas, o filme humaniza todos os lados (o que o verdadeiro capitão Phillips pode discordar) e não oferece respostas. O difícil, quando a barbárie sobrepuja a humanidade, é formular as perguntas.
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
RUSH – NO LIMITE DA EMOÇÃO
A rivalidade dos pilotos James Hunt e Niki Lauda é o motor deste drama em alta velocidade conduzido com firmeza e estilo por Ron Howard. O diretor foi até a época em que o glamour das corridas de Fórmula 1 se confundia com o perigo muito real enfrentado por pilotos que testavam os limites da tecnologia e da velocidade. O cinema várias vezes procurou as corridas como pano de fundo para histórias de superação, mas a trajetória magnífica de Hunt e Lauda – entrecortada por sexo, bebibas, mulheres, acidentes, voltas por cima e o triunfo do espírito humano sobre a máquina fria – criou um filme espetacular, que ganha ainda mais fôlego com o trabalho irretocável de Chris Hemsworth e Daniel Brühl.
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
FRANCES HA
A energia pura irradiada por Greta Gerwig no papel de Frances dá para iluminar uma cidade! Não existe tempo ruim para essa jovem de vinte-e-poucos anos em busca do rumo que vai dar à sua vida. Amizades desfeitas, corações partidos e um inacreditável fim de semana em Paris compõem o recorte tecido pelo diretor Baumbach (A Lula e a Baleia) e pela própria Greta, que dividem o roteiro (e, pelo visto, as escovas de dentes). Produzido pela brasileira RT Features, Frances Ha é filme independente em concepção, mas mundial em execução. Quando Frances passa um feriado em família, com todos os prós, contras, perguntas e cobranças, ela é gente como a gente. Ainda que infinitamente mais charmosa.
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
OS SUSPEITOS
Neste thriller com Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal, a linha entre certo e errado, lei e justiça, culpados e inocentes, aparece borrada. Jackman é o pai que, após o desaparecimento de sua filha (e a de um amigo, interpretado por Terrence Howard), não mede esforços para encontrar o responsável. O único suspeito escorrega por entre os dedos de uma polícia atada por procedimentos, Jackman não quer deixar barato e… bom, e aí você pode imaginar. O diretor de Incêndios mostra que não há linha que um “homem de bem” não seja capaz de cruzar em sua busca pela verdade. Mas, afinal, quem é o dono da verdade?
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
GRAVIDADE
Cinema em estado bruto. Um filme de arte de 100 milhões de dólares. Um vislumbre do futuro do cinema. A tecnologia a serviço da narrativa. Uma atriz no auge de seu talento. Gravidade é o melhor filme de 2013. Quando falei sobre ele, duvidava que outro filme pudesse ser tão arrebatador, tão envolvente, tão espetacular. Pura mágica. Muito se falava e se especulava como o diretor ia conseguir prender a atenção do espectador com uma estória de uma pessoa pedida no espaço e nada mais, mas certemente ele conseguiu do início ao fim seu objetivo.
quinta-feira, 25 de julho de 2013
CÍRCULO DE FOGO
Guillermo Del Toro colocou monstros gigantes descendo a lenha em robôs colossais, transformou tudo em um caso de família e criou um dos espetáculos mais sensacionais do ano. Círculo de Fogo, como eu escrevi na época de seu lançamento, adiciona humanidade ao cinema pipoca, equilibrando os personagens “de verdade” com as criaturas que brotam da imaginação do diretor. E poucas cenas este ano foram tão eletrizantes quanto a Batalha de Hong Kong. Já perdi a conta de quantas vezes eu revi o filme.
sexta-feira, 21 de junho de 2013
ANTES DA MEIA-NOITE
O que é o amor? E o que ele se torna quando a paixão dá espaço à rotina? É essa jornada que o casal Jesse e Céline encara quando os reencontramos quase duas décadas depois da noite a dois em Viena, quando eram adolescentes, e praticamente uma década depois de seu reencontro em Paris, já adultos em busca de rumo. Ethan Hawke, Julie Delpy e o diretor Linklater criam a trilogia mais inusitada do cinema, um filme sobre adultos e para adultos. É verão, Jesse e Céline agora são casados e passam férias na Grécia com suas filhas. É também hora de redescobrir o significado de suas escolhas. Antes da Meia-Noite é imprevisível, agridoce, emocionante e arrebatador. Como o amor.
sábado, 25 de maio de 2013
O LOBO DE WALL STREET
Scorsese aposta pela quinta vez na estampa de Leonardo DiCaprio para conduzir uma trama acelerada, tragicômica e tão incrível que só podia ser verdade. O astro é Jordan Belfort, corretor em Wall Street que se aproveita de um mercado de ações confuso para, nem sempre dentro da lei, construir uma fortuna. Sua ascensão e queda parecem ser anabolizadas por cocaína, prostitutas e mais dinheiro que alguém pode gastar. Scorsese mergulha neste mundo e entrega um filme fascinante, em que mais uma vez DiCaprio prova ser um dos intérpretes mais completos de sua geração. Ainda assim, é Matthew McConaughey, no papel do mentor de Belfort, que resume em um diálogo arrasador o que é preciso para sobreviver no mar de tubarões que é o mundo de dinheiro e poder de Wall Street.
quinta-feira, 11 de abril de 2013
TRAPAÇA
David O. Russell é como o dono de uma companhia teatral. Pega os melhores artistas de um trabalho (Christian Bale e Amy Adams, que com ele fizeram O Vencedor), adiciona performers de outra grande montagem (Bradley Cooper e Jennifer Lawrence, de O Lado Bom da Vida), pincela novas peças no tabuleiro (Jeremy Renner, Louis C.K.) e o resultado é… mágica! Trapaça é um filme sobre vigaristas. Bale e Adams, apaixonados um pelo outro e pela beleza dos golpes, sobrevivem numa boa ao garfar sempre peixes pequenos. J-Law é o outro lado da moeda, já que é casada com o personagem de Bale (e ilumina a tela sempre que está em cena). O policial Cooper dá as caras para a) desestabilizar o esquema e b) talvez ter um gostinho de como a vida do outro lado é boa. Quando a farsa ameaça cutucar jogadores perigosos de verdade (políticos, a máfia), é hora de buscar uma saída. Ou de mergulhar ainda mais fundo na trapaça. Um filme delicioso, com um elenco espetacular que nunca esteve tão em sintonia. Russell aperfeiçoou sua fórmula. Qual o passo seguinte?
terça-feira, 5 de março de 2013
THE WIND RISES
O mestre Hayao Miyazaki diz que The Wind Rises é sua despedida do cinema. Gênio por trás das obras primas Meu Amigo Totoro, Princesa Mononoke e A Viagem de Chihiro, aqui o diretor se afasta da fantasia e entra em terreno perigoso. Desde criança, Jiro tem um sonho: o de ganhar os céus. Como não pode pilotar (sua visão é frágil e não acompanha seu coração), ele passa a vida desenhando o avião perfeito – para a glória da nação japonesa, claro. A mesma nação que fazia um acordo com o Partido Nazista e entrava na Segunda Guerra Mundial. Ver seu sonho se tornar instrumento de destruição é o temor de todo artista. Miyazaki romantiza a biografia de Jiro (que morreu em 1982) e procura a beleza em meio ao caos. Pode ser uma busca sem fim. Mas a jornada, como mostrada em The Wind Rises, é de tirar o fôlego.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
FRUITVALE STATION – A ÚLTIMA PARADA
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
O GRANDE MESTRE
O mestre aqui é o diretor de Amor À Flor da Pele, um dos filmes mais espetaculares do cinema moderno. Wong Kar Wai não segue a cartilha de O Tigre e o Dragão ou Herói. Seu O Grande Mestre, baseado na vida do lutador Ip Man (grande performance de Tony Leung), entrecorta o velho e o novo, a tradição das artes marciais com o avanço inexorável do mundo moderno, de guerra e política, sem espaço para a honra. A cena inicial, um combate de um contra dezenas sob uma chuva inclemente, marca o estilo do diretor: não é a luta entre os homens que importa, e sim o combate interior para manter-se zen num mundo amoral.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
À Margem da Sociedade... Mas nem tanto
Ao contrário do Cinema Novo – movimento dos anos 60 de Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos – o Cinema Marginal não possuía uma coesão interna, sendo assim, não foi reconhecido como um “movimento”. Acabou sucumbindo no início dos anos 70 devido a uma série de fatores. Um deles era a pressão dos militares, que exilaram os diretores Julio Bressane e Rogério Sganzerla, idealizadores da produtora Belair. Fora isso, havia o desinteresse do mercado exibidor e do público.
O Cinema Marginal é reconhecido devido a características presentes em toda sua filmografia, a maneira como foram produzidos e a forma de divulgação. Alguns elementos estruturais conduzem as produções feitas pelos “marginais”: A contracultura, classicismo narrativo, presença de elementos abjetos, confronto com o público, citação das chanchadas, crítica à sociedade de consumo e da comunicação em massa. Além disso, houve uma abertura para elementos presentes nos filmes hollywoodianos.
Os primeiros longa-metragens do Cinema Marginal surgiram entre 1968 e 1969 e o filme mais famoso foi “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla. Devido a dificuldade em encontrar uma unidade para o segmento marginal, foi definido um grupo que produzia de forma mais coesa e se relacionava com mais proximidade: O Cinema Marginal Cafajeste.
Produzindo com pouco dinheiro e filmando de forma rápida, este segmento utilizava-se do erotismo e conseguia boa distribuição e público. Os diretores principais do “marginal cafajeste” são Carlos Reichenbach, Antônio Lima, João Callegaro, Jairo Ferreira e Carlos Alberto Ebert. Entre suas obras, muitas feitas em conjunto, destacam-se: “As Libertinas” (1969), de Reichenbach, Lima e Callegaro e “Audácia, Fúrias dos Desejos” (1970), de Reichenbach e Lima. Fora estes, há “República da Traição” (1970), de Carlos Alberto Ebert e “O Pornógrafo”, de João Callegaro. Bem próximo a este grupo localiza-se “A Mulher de Todos”, feito por Sganzerla em 1969.
Mais distante do esquema de produção marginal cafajeste encontra-se Andréa Tonacci com seu filme “Bang-Bang” e Ozualdo Candeias com “A Margem”, de 1967. Apesar deste último não ter uma relação direta com o grupo, a obra é citada como “filme-referência” do Cinema Marginal.
O Cinema Marginal é reconhecido devido a características presentes em toda sua filmografia, a maneira como foram produzidos e a forma de divulgação. Alguns elementos estruturais conduzem as produções feitas pelos “marginais”: A contracultura, classicismo narrativo, presença de elementos abjetos, confronto com o público, citação das chanchadas, crítica à sociedade de consumo e da comunicação em massa. Além disso, houve uma abertura para elementos presentes nos filmes hollywoodianos.
Os primeiros longa-metragens do Cinema Marginal surgiram entre 1968 e 1969 e o filme mais famoso foi “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla. Devido a dificuldade em encontrar uma unidade para o segmento marginal, foi definido um grupo que produzia de forma mais coesa e se relacionava com mais proximidade: O Cinema Marginal Cafajeste.
Produzindo com pouco dinheiro e filmando de forma rápida, este segmento utilizava-se do erotismo e conseguia boa distribuição e público. Os diretores principais do “marginal cafajeste” são Carlos Reichenbach, Antônio Lima, João Callegaro, Jairo Ferreira e Carlos Alberto Ebert. Entre suas obras, muitas feitas em conjunto, destacam-se: “As Libertinas” (1969), de Reichenbach, Lima e Callegaro e “Audácia, Fúrias dos Desejos” (1970), de Reichenbach e Lima. Fora estes, há “República da Traição” (1970), de Carlos Alberto Ebert e “O Pornógrafo”, de João Callegaro. Bem próximo a este grupo localiza-se “A Mulher de Todos”, feito por Sganzerla em 1969.
Mais distante do esquema de produção marginal cafajeste encontra-se Andréa Tonacci com seu filme “Bang-Bang” e Ozualdo Candeias com “A Margem”, de 1967. Apesar deste último não ter uma relação direta com o grupo, a obra é citada como “filme-referência” do Cinema Marginal.
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
Felline - Impossível não lembrar do Poeta

Posteriormente, passou a produzir roteiros e piadas para humoristas. No cinema ele seguiu os passos de Rossellini, a quem ele reverenciava e ao lado do qual ele colaborou em diversos trabalhos conjuntos, como Roma, Cidade Aberta e Paisá, aprendendo assim a manipular os recursos técnicos necessários para a criação cinematográfica.
A primeira etapa de sua filmografia está impregnada de características do movimento neo-realista, retratando desta forma as agruras de protagonistas das camadas populares, com os quais ele se identifica. Seus dons fantasiosos, porém, foram aos poucos transcendendo sua visão realista. Pode-se perceber esta guinada estética em Oito e Meio, obra na qual se encontram facilmente os traços oníricos, a natureza imaginativa do diretor e as características caricatas que marcarão essencialmente sua trajetória como cineasta.
Fellini, como Godard, também não valorizava os roteiros, embora se valesse deste recurso, criando-os contra a vontade, pois acreditava que as imagens deveriam ser transferidas automaticamente de sua mente criadora para as telas dos cinemas. Ele dava importância crescente à inventividade, ao trabalho com pessoas comuns, transformadas de improviso em atores, mas sabia lançar mão de grandes profissionais, como o ator Marcello Mastroianni, a atriz Giulietta Masina, seu criador de trilhas sonoras preferido, Nino Rotta, e o roteirista Tonino Guerra.
O diretor foi celebrizado por seu poder de gerar imagens poéticas, que logo se transformaram em patrimônio para a posteridade, adquirindo um caráter eterno e clássico, imediatamente associado a este genial cineasta. Mesmo nos seus filmes mais críticos e de natureza política, como Amarcord e Ensaio de Orquestra, está presente a poesia. Mesmo porque Fellini não se considera um político, evitando assim assumir posturas ideológicas, apesar das expectativas nutridas por quem testemunha esta sua abordagem de temas extraídos da Política.
Suas obras dos anos 60 e 70 estão essencialmente imbuídas de características barrocas e populares. Desta forma o diretor recria nas telas as angústias de homens efêmeros e sem identidade marcante, que não se destacam no dia-a-dia. Suas opções estilísticas pelo excesso e pelo desconhecido são os instrumentos ideais para retratar criaturas que se imortalizaram em filmes como Os Boas Vidas, Julieta dos Espíritos, A Doce Vida e La Nave Va.
Fellini foi amplamente premiado por sua produção, dentro e fora da Itália. A coroação de sua carreira consagrada foi o recebimento, em 1993, do Oscar honorário, pelo conjunto de sua atuação cinematográfica. Neste mesmo ano, em 31 de outubro, o mundo perde a genialidade de Fellini, que falece em Roma. Sua obra, porém, permanece eterna e universal.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Distrito 9 - Não é fácil...
Assistir Distrito 9 não é das tarefas mais fáceis, pois nas telas o espectador se depara com suas próprias mazelas, especialmente com a intolerância e o grau zero na aceitação das diferenças. Esta obra-prima do gênero ficção científica toca nas feridas mais profundas da alma humana, exibindo diante do olhar do público a forma muitas vezes cruel com que o ser humano lida com a alteridade.
distrito 9 posterEste filme vai contra a velha e tradicional concepção do extraterrestre que invade a Terra e, quase sempre, elege misteriosamente o povo norte-americano como adversário, visão que encontra seu ápice em produções como Independence Day. Aqui a nave-mãe originária de um planeta desconhecido paira sobre Johanesburgo, uma das maiores metrópoles da África do Sul.
Nesta nave espacial são encontrados seres estranhos, com forma de inseto, depreciativamente chamados de ‘camarões’. Sem saber como agir diante de tais criaturas, que representam a mais radical alteridade, as autoridades locais as confinam em um gueto conhecido como Distrito 9, onde elas vivem de uma forma aviltante e desprezível, exatamente como em um campo de concentração.
Uma indústria armamentista é responsável pela exclusão destes seres, pois vêem em sua total e completa submissão a possibilidade de lucrar com suas armas. Diante da passividade de ‘insetos’ que agem como operários, uma vez desprovidos da presença de uma espécie de rainha-mãe, como entre as abelhas, os executivos desta multinacional não têm maiores dificuldades em atingir pelo menos parte de seus objetivos.
O protagonista desta trama, Wikus Van De Merwe, interpretado por Sharlto Copley, um sul-africano autêntico, é a imagem do anti-herói, de certa forma simpático, mas um burocrata alienado que trabalha para esta empresa, a Multi-National United (MNU) e despreza igualmente os ‘camarões’, até se ver envolvido em um estranho caso de transmutação, que lembra imediatamente a transformação vivenciada pelo personagem de Franz Kafka no livro ‘A Metamorfose‘, ao ser incumbido de notificar os aliens de seu iminente despejo do Distrito 9.
Neil Blomkamp é o diretor independente que se revela diante do mundo com esta obra surpreendente que mistura elementos de ficção científica com uma contundente crítica social. Esta obra nasceu sem muitas ambições de superprodução, com uma publicidade singela mas acirrada, com pôsteres espalhados pelos principais pontos de ônibus dos EUA, pedindo ao povo que denunciasse ETs.
Este foi o recurso da surpresa, o outro foi o da participação de Peter Jackson, diretor do clássico O Senhor dos Anéis, como produtor facilitador, o profissional que procura garimpar novos talentos. Um elemento que permitiu igualmente sua alta cotação junto ao público e à crítica é a profunda bagagem cultural de Blomkamp, especialmente a literária, que o impediu de cair nos velhos clichês deste gênero.
As cenas desta produção foram gravadas em uma favela de Soweto, reproduzindo irônica e tristemente os recentes conflitos pós-apartheid que vêm abalando a região. Blomkamp, mesmo sem se dar conta, reproduz nas telas o que vivenciou em Johanesburgo, ao longo de sua vida, durante os embates segregacionistas e também depois da queda do regime racista.
Infelizmente os mesmos protagonistas da cruel discriminação racial parecem repetir, hoje, a mesma história com relação aos imigrantes. Como para confirmar este raciocínio, durante as filmagens, em 2008, vários conflitos tomaram as ruas próximas às filmagens e diversos habitantes do Zimbábue, à procura de novas oportunidades na África do Sul, foram mortos brutalmente. Episódios como esse reforçam a idéia do diretor de dar ao seu filme um caráter documental, uma vez que ele se alicerça profundamente em uma realidade concreta.
A Sony, distribuidora deste filme, se viu surpreendida com a grandiosa recepção de Distrito 9, e até mesmo sua filial brasileira teve que providenciar mais cópias desta película – inicialmente seriam apenas cem cópias. Com certeza a empresa não se arrependeu, pois as salas de exibição estão sempre repletas de um público ansioso para descobrir o porquê de tanto sucesso.
distrito 9 posterEste filme vai contra a velha e tradicional concepção do extraterrestre que invade a Terra e, quase sempre, elege misteriosamente o povo norte-americano como adversário, visão que encontra seu ápice em produções como Independence Day. Aqui a nave-mãe originária de um planeta desconhecido paira sobre Johanesburgo, uma das maiores metrópoles da África do Sul.
Nesta nave espacial são encontrados seres estranhos, com forma de inseto, depreciativamente chamados de ‘camarões’. Sem saber como agir diante de tais criaturas, que representam a mais radical alteridade, as autoridades locais as confinam em um gueto conhecido como Distrito 9, onde elas vivem de uma forma aviltante e desprezível, exatamente como em um campo de concentração.
Uma indústria armamentista é responsável pela exclusão destes seres, pois vêem em sua total e completa submissão a possibilidade de lucrar com suas armas. Diante da passividade de ‘insetos’ que agem como operários, uma vez desprovidos da presença de uma espécie de rainha-mãe, como entre as abelhas, os executivos desta multinacional não têm maiores dificuldades em atingir pelo menos parte de seus objetivos.
O protagonista desta trama, Wikus Van De Merwe, interpretado por Sharlto Copley, um sul-africano autêntico, é a imagem do anti-herói, de certa forma simpático, mas um burocrata alienado que trabalha para esta empresa, a Multi-National United (MNU) e despreza igualmente os ‘camarões’, até se ver envolvido em um estranho caso de transmutação, que lembra imediatamente a transformação vivenciada pelo personagem de Franz Kafka no livro ‘A Metamorfose‘, ao ser incumbido de notificar os aliens de seu iminente despejo do Distrito 9.
Neil Blomkamp é o diretor independente que se revela diante do mundo com esta obra surpreendente que mistura elementos de ficção científica com uma contundente crítica social. Esta obra nasceu sem muitas ambições de superprodução, com uma publicidade singela mas acirrada, com pôsteres espalhados pelos principais pontos de ônibus dos EUA, pedindo ao povo que denunciasse ETs.
Este foi o recurso da surpresa, o outro foi o da participação de Peter Jackson, diretor do clássico O Senhor dos Anéis, como produtor facilitador, o profissional que procura garimpar novos talentos. Um elemento que permitiu igualmente sua alta cotação junto ao público e à crítica é a profunda bagagem cultural de Blomkamp, especialmente a literária, que o impediu de cair nos velhos clichês deste gênero.
As cenas desta produção foram gravadas em uma favela de Soweto, reproduzindo irônica e tristemente os recentes conflitos pós-apartheid que vêm abalando a região. Blomkamp, mesmo sem se dar conta, reproduz nas telas o que vivenciou em Johanesburgo, ao longo de sua vida, durante os embates segregacionistas e também depois da queda do regime racista.
Infelizmente os mesmos protagonistas da cruel discriminação racial parecem repetir, hoje, a mesma história com relação aos imigrantes. Como para confirmar este raciocínio, durante as filmagens, em 2008, vários conflitos tomaram as ruas próximas às filmagens e diversos habitantes do Zimbábue, à procura de novas oportunidades na África do Sul, foram mortos brutalmente. Episódios como esse reforçam a idéia do diretor de dar ao seu filme um caráter documental, uma vez que ele se alicerça profundamente em uma realidade concreta.
A Sony, distribuidora deste filme, se viu surpreendida com a grandiosa recepção de Distrito 9, e até mesmo sua filial brasileira teve que providenciar mais cópias desta película – inicialmente seriam apenas cem cópias. Com certeza a empresa não se arrependeu, pois as salas de exibição estão sempre repletas de um público ansioso para descobrir o porquê de tanto sucesso.
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